sábado, 6 de agosto de 2016
Sobrevivência
A solidão me amarga
A alma que segue oca
Da vida que cursa louca
O frenesi dos meus dias.
Sozinho em companhia
Gozo
Fisiologia
O meu fel na outra boca.sexta-feira, 5 de agosto de 2016
F O M E
- Essa minina só pensa em comida!
Exclamou Vó Zinha,
O sorriso fácil na boca vazia.
Pele preta envelhecida,
Olhos amarelos, lá no fundo
Os ossos saltando à pele.
Parada, mexendo a panela,
a velha dava risada
Da neta esfaimada.
- Não tinha cumida pra tantos,
E a tonta foi embuchá!
Agora as barriga ronca
Que eu custo num iscutá.
A minha, a dela, os minino,
Pior sinfonia num há.
Os olhos da Dona são secos
O riso não chega até lá
O cozido no fogão à lenha
Tem água, sal e fubá.
sexta-feira, 15 de julho de 2016
Bolero
Arranquei meus olhos
Porque me impediam
De deixar de ver.
E, cega, eu fui feliz.
Sua fome era minha,
Seu domínio o sentido,
O desejo era amor.
Amei, fui amada
Querida, cuidada,
Não quis outra vida.
Mas, o bem também acaba.
Dormi de sonhos inebriada,
Na triste alegria dos
dormentes.
E ao acordar,
Que pesar, eu te via
E já não podia
Deixar de enxergar.
Esses olhos teimosos
Que em todo esse tempo
Tentavam voltar,
Acharam um caminho.
Sorrateiramente,
Sem consentimento,
Embaixo das pálpebras
Voltaram a morar.
E estão de um jeito
Que mesmo querendo
Eu já não consigo
Tirá-los daqui.
Recusam-se a ir
E agora pior,
A tudo observam.
E fazem questão
De que eu perceba
A sua nobreza
A minha tristeza
A sua beleza
A minha alegria se penso em
ti
A sua distância
O meu desencanto
A sua frieza
O meu desalento
Sua indiferença
Sua paz, meu tormento.
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